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sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Haverá morte depois da vida?

Respondendo à pergunta que é título desta crónica: eu não queria estar aqui a lançar boatos, mas estou bastante confiante que sim.

Tendo como base a minha experiência de vida (sempre fui fã de filmes de terror), o que me diz a mim que a senhora idosa que vive aqui ao lado não é uma assassina em série contratada especificamente para me matar? Só espero não me assustar quando chegar ao meu quarto, ligar a luz e vir a minha vizinha idosa a apontar-me uma faca. É que a velha sofre de incontinência urinária, e depois é uma maçada para lavar os tapetes. Se a minha vizinha me estiver a ler, peço-lhe por favor que, se hipoteticamente me pretender assassinar, o faça na minha cozinha, porque o chão é em azulejo. Desde já agradeço a sua consideração.

Apelando uma vez mais à minha experiência de vida: as pessoas têm reações muito estranhas, quando confrontadas com a morte. As pessoas nos filmes de terror, por exemplo. Há sempre aquela rapariga que ouve um barulho na cozinha e grita: “Está aí alguém?” Sim, porque o assassino lhes vai claramente responder: “Sim, estou na cozinha. Queres tomar alguma coisa, ou posso já despachar o assunto e esfaquear-te múltiplas vezes no abdómen?”

Honestamente, acho que deviam escolher pessoas mais inteligentes para participarem em filmes de terror. Eu, por exemplo. Não tenho um QI extraordinário, mas não sou parva ao ponto de entrar em casas abandonadas, caves ou compartimentos suspeitos, quando oiço barulhos estranhos. É um grande disparate, meus senhores. Não façam isso.

Se em algum futuro longínquo eu me tornar milionária, que fique bem claro que haverá morte depois da vida para o indivíduo que se atrever a contar seja o que for à Judite de Sousa. Só queria deixar isso bem claro.

Toda a gente conhece – ou pelo menos já ouviu falar – daquela espécie que fala com Deus quando tem algum amigo ou familiar doente, ou às portas da morte. Acho isso muito bonito. Eu não acredito em Deus. Se ao menos ele me enviasse um sinal… como o de encher o meu quarto de chocolates Toblerone e pôr uma máquina de algodão-doce na minha casa de banho, por exemplo. Isso faria de mim uma pessoa particularmente crente. E, quem sabe, um dia encontrar-me-iam por aí a rezar com excecional fervor pelo meu falecido periquito. 

Verifico agora que se me acabaram os pacotes de lenços. Desespero. Vou correr até à tabacaria, esperando não escorregar em iogurte líquido, tropeçar no gato da senhora Ermelinda, ou ser confrontada com uma qualquer situação que vá provocar a minha morte precoce. Ao menos deixem-me assoar o nariz antes de falecer. Uma pessoa morta não é bonita de se ver, mas uma pessoa morta com ranho no nariz é uma imagem particularmente desagradável.

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